Antes de mais nada, é bom que se esclareça: os liberais não contribuem com a dominação esquerdista propositalmente. Contudo, de propósito ou não, esse é o efeito que as ideias liberais surtem na disputa política entre socialistas, liberais e conservadores. Conservadorismo e o que ele deseja “conservar”: os 4 pilares de sustentação da Civilização Ocidental. Já os liberais se preocupam exclusivamente com apenas 1 dos pilares: o pilar do liberalismo econômico.

Isso porque os liberais têm a liberdade como princípio norteador de sua atuação política. Ou seja, eles a colocam acima de tudo e não podem ser favoráveis a nada que fira o princípio da liberdade. Porém, eles erram na medida em que a liberdade NÃO pode ser o fundamento de todos os outros valores da sociedade, mas, apenas, um dos inúmeros valores coadjuvantes que decorrem daqueles 4 pilares fundamentais.
Exemplo: um liberal é a favor da legalização do aborto porque crê na liberdade do indivíduo de fazer o que ele quiser – seja esse ato bom ou ruim. Já o conservador diria que não; e que o indivíduo deve ter a sua liberdade garantida, SIM, mas desde que isso não afronte nenhum dos pilares, como o da moralidade judaico-cristã e do direito romano, que, juntos, formam a nossa noção de Justiça.
Ora, o que está acima: a liberdade ou a justiça? É claro que é a justiça, uma vez que ela é responsável por impor limites à própria liberdade, até mesmo para que todos possam ser livres ao mesmo tempo sem que a liberdade de uns atropele a de outros. Um cenário onde todos experimentam uma liberdade irrestrita e sem limites seria extremamente caótico e injusto. No fundo, buscamos sempre o modelo que é mais justo e a liberdade entra na história apenas como um MEIO de alcançar essa justiça pretendida. Portanto, ela não pode ser um princípio em si, considerando que ela depende da existência de outros valores para ser tomada como algo positivo ou não. No exemplo proposto sobre o aborto, então, o conservador perceberá que a liberdade da mãe em abortar fere a liberdade da criança de nascer, fazendo deste ato uma INJUSTIÇA contra o bebê e uma IMORALIDADE contra Deus.
Explicadas, então, as diferenças entre a visão conservadora e a liberal, passemos para a questão central: por que o liberalismo contribui com a esquerda, se ele se diz pertencente à direita? E como isso acontece?
O marxismo surgiu inicialmente como uma proposta de reformulação econômica, alternativa ao capitalismo (4° pilar da Civilização). Porém, a partir do momento em que essa proposição foi testada na prática e se mostrou um fracasso completo, os ideólogos, herdeiros de Marx, tiveram que reformular o marxismo para que ele pudesse continuar vivo. Assim, a Escola de Frankfurt surgiu com a convicção de que Karl Marx havia invertido a ordem dos fatores em sua teoria: ao contrário do que ele havia dito, não era a ordem institucional que criava a cultura do povo, afinal, mas a cultura do povo que criava a ordem institucional.
Logo, os comunistas, que antes buscavam tomar o Estado para controlar e definir os valores da sociedade, descobriram que na verdade eles precisavam fazer o contrário: controlar e definir os valores da sociedade, primeiro, para que essa cultura revolucionária produzisse o Estado nos moldes que eles queriam.
Nessa nova estratégia, o plano econômico do marxismo ficou em segundo plano e, por vezes, como é o caso da China, abandonado por completo para usar o capitalismo a fim de enriquecer o próprio regime comunista. Tomar os meios de produção não era mais o objetivo deles. Agora, eles queriam tomar algo muito mais valioso: as nossas consciências.
Para isso, concentraram todos os seus ataques nos 3 outros pilares: filosofia grega, direito romano e moral judaico-cristã. A educação foi devastada e usada para formação de militância, as instituições foram transformadas em braços do Partido e a religião foi difamada até a desmoralização completa. Esses 3 pilares são aqueles mesmos que os liberais NÃO se empenham minimamente para proteger e nos quais a esquerda vem apostando todas as suas fichas desde então.
Portanto, bater na esquerda por causa de impostos, propriedade privada, empreendedorismo e coisas materiais desse tipo é importante – não há dúvidas -, mas se limitar a bater APENAS nessa tecla é tão insano quanto denunciar Mao Tsé-Tung, o maior genocida da história, por mentir na declaração de imposto de renda ou dirigir sem carteira. Há que existir algum senso das proporções para que possamos ordenar adequadamente a resposta aos ataques mais e menos perigosos.
Conforme esses três pilares estiverem em ruínas e a nação desestabilizada, a sociedade entrará em colapso e demandará um Estado forte, centralizador e arbitrário (bem ao estilo comunista) que se apresentará como salvador da pátria para controlar o caos que eles mesmos provocaram. Assim, a dominação dos meios de produção e a economia estatizada poderão vir como bônus. E pior: isso acontecerá com o apoio da própria sociedade, que, desesperada, clamará por uma solução rápida e certeira sem ao menos refletir sobre o que terá que abrir mão em contrapartida. Basta dizer que algo é para o “bem comum” que as pessoas obedecem a qualquer ordem vinda de cima, por mais absurda que seja, sem nem contestar. A pandemia de coronavírus já deixou isso claro.
Sendo assim, os liberais, mesmo sem querer, deixam uma área de manobra enorme para a esquerda pintar e bordar com as suas estratégias reformuladas e os conservadores são aqueles que estão sozinhos, tentando alertar todo mundo para o que está acontecendo bem debaixo dos nossos narizes. A liberdade é importantíssima e tão “sagrada” para nós, conservadores, quanto para os liberais, MAS, justamente por essa ser uma bandeira em comum dos dois grupos, por que haveríamos de escolher aquele que faz apenas isso da vida se podemos estar entre os que têm uma noção muito mais completa e abrangente do que a civilização ocidental precisa para sobreviver?
Assistam à palestra do Yuri Bezmenov, ex-agente da KGB, sobre a “teoria da subversão” no Youtube, para entender melhor a estratégia do movimento revolucionário.

Pedro Delfino é especialista em História da Civilização Ocidental e História da Igreja Católica; autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada (que aborda temas como História, Filosofia e Política); do Curso de História Geral da Civilização Ocidental, do Curso de Excelência Catholica, do livro Via Sancta e é co-Fundador do Movimento Brasil Conservador.
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