Imagine-se como um cidadão alemão na década de 30. Você viu a ascensão dos nacional-socialistas ao poder. Viu quando Hitler foi nomeado primeiro-ministro em 1933. Viu quando ele demitiu todos os judeus do serviço público alemão. Em 1º de abril de 1933, quando decretou um boicote nacional aos estabelecimentos judeus, você assistiu à propaganda do governo que explicava porque aquilo era para o “seu bem”. Você ainda observou a aprovação de outras leis que, de uma forma ou de outra, perseguiam os cidadãos de origem judaica. Nesse sentido, certamente o ano de 1938 foi um dos mais intensos. Naquele ano, em 12 de novembro, foi aprovada a lei que proibia todos as atividades econômicas conduzidas por judeus. Claro que alguns judeus tentaram manter seus negócios mudando de endereço e de nome. Mas a crise econômica e a turbulência política criou alguns alemães “zelosos” que não hesitavam em denunciá-los e obrigá-los a prestar contas ao governo nacional-socialista. E tudo amparado pelas leis. Qualquer um desses alemães que alertava as autoridades sobre a presença de judeus em estabelecimentos públicos ou comerciais estava amparado pelas leis.
Agora, imagine que você era um funcionário público alemão, que nem votou nos candidatos do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (qualquer semelhança com o Partido dos Trabalhadores do Brasil não é mera coincidência), mas que, por não ser judeu, manteve seu emprego e seu salário até agora. Imagine que você trabalha no departamento de licenças de alguma cidade e alguém o chamou para verificar uma denúncia de que um estabelecimento comercial poderia estar vinculado a algum judeu. O que você faria? Verificando que a denúncia era verdadeira, você tiraria o estabelecimento do seu dono? Ou, para não sujar suas mãos, você passaria o caso a um colega que você sabe que iria prejudicar o denunciado? Ou então, você ignoraria a denúncia e registraria que o estabelecimento é regular, mesmo correndo o risco de represálias? Você já pensou nisso?
Infelizmente, esses dilemas não pararam de ser oferecidos às pessoas com a derrota dos nacional-socialistas em 1945. Ao longo das décadas, vemos que esse tipo de dilema brota de tempos em tempos. No Brasil, por exemplo, o ex-presidente José Sarney, ao sancionar o Plano Cruzado, disse que “Cada brasileiro e brasileira deverá ser um fiscal dos preços, um fiscal do presidente para a execução fiel desse programa em todos os cantos desse país”. A ideia era que, dentro daquele plano, a sua propriedade não era mais tão sua. Era o governo quem ditava as regras do quanto você teria que aceitar para vender o que era seu. Apareceram assim os famosos “fiscais do Sarney”, gente que denunciava os donos de mercadinhos e padarias porque não estavam vendendo seus produtos pelo preço que o governo achava melhor. Ou mesmo porque estavam a esconder os produtos que tinham para não ter que vender ao preço estabelecido pelo plano.
A questão aqui é que, mesmo sabendo que os denunciados enfrentariam prisão e expropriação de bens, muitos tinham até orgulho em denunciá-los, achando que estavam fazendo o melhor para o país. Particularmente eu não vejo muita diferença entre aqueles “fiscais do Sarney” e o cidadão alemão que simplesmente estava vivendo sua vida sem questionar a moralidade das ações do seu governo na década de 30. Mas parece que essa não é a visão de muitos brasileiros quando vemos, ainda hoje, gente denunciando negócios que funcionam fora das quarentenas estabelecidas pelos governos estaduais ou confiscando o produto de vendedores de rua que tentam sobreviver em meio à crise econômica imposta por esses mesmos governos. E o meu ponto é: esses “zelosos” denunciantes de hoje, os “fiscais do Sarney” e o alemão que participou sem questionamentos do governo nazista têm a mesma mentalidade e terão o mesmo destino espiritual.
E o fato é que não deveria ser tão difícil chegar a essa conclusão, principalmente para um cristão ou alguém que vive de comércio. Creio que não tem muito cabimento a um cristão concordar em ameaçar seu próximo apenas por estar trabalhando para colocar pão na mesa ou por não querer vender o que é dele ao preço estabelecido pelo governo. Da mesma forma, não me parece sensato a um empresário que conhece toda a dificuldade imposta pelas leis para conduzir sua atividade denunciar seu concorrente apenas porque não está agindo conforme exigências legais que ele mesmo considera idiotas. Ainda assim, vemos todos os dias exemplos desses zelosos perseguidores, muitas vezes na pauta das mídias mais populares. Alguns programas televisivos até incentivam que cidadãos tirem foto de próximos que eventualmente, por pressa ou distração, estacionem ligeiramente fora das linhas marcadas ou cometem qualquer deslize pequeno, para serem expostos de forma humilhante em rede nacional. A diferença entre esses fotógrafos e os alemães da década de 30 é apenas o espaço e o tempo.
Por bem, pelo menos no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel, parece que o número de pessoas que pensam assim está diminuindo. Nesses países, e em alguns outros onde a população parece estar acordando para a moralidade das ações dos seus governos, cristãos e conservadores têm ganhado destaque cultural e social e conseguido colocar seus representantes no poder. Tudo indica que esse processo é irreversível, apesar de estar claro que os grupos interessados que a população não questione a moralidade de suas ações estão conscientes de que estão perdendo espaço e fazendo de tudo para parar esse avanço. Mas isso não é de todo ruim, já que a própria truculência dessas respostas (que se manifesta de forma cada vez mais clara, como as prisões arbitrária de críticos ao STF e a tentativa de calar cristão e conservadores na internet) faz com que as pessoas se tornem mais conscientes do que está acontecendo e escolham seus lados. Termino, então, com uma pergunta ao leitor ou à leitora que está a ler este artigo: você tem consciência desse conflito? De qual lado você está? Deixe seu comentário com sua opinião. Obrigado!

Henrique Guilherme (Colunista) É escritor e apresenta o programa O Patriota: A Voz da Resistência. Ele é economista, mestre em Administração Pública e hipnoterapeuta. Também é pós-graduado em Administração de Empresas, Biotecnologia, Matemática e História Militar. Guilherme é geek, patriota, de direita e, principalmente, cristão. Ele dedica sua vida a derrotar as forças do mal e criou a série de livros Guia do Patriota para ajudar todos aqueles que buscam fazer o mesmo.
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