A definição de esquerda e direita surgiu durante a Revolução Francesa, a partir de 1789 até 1799. Nas assembleias, os jacobinos (aqueles que eram favoráveis à revolução) sentavam-se à esquerda do rei enquanto que os girondinos (aqueles que eram leais ao rei e à Igreja) sentavam-se à direita.
A Monarquia e a Igreja Católica eram os pilares da França; e os jacobinos, movidos pelo furor revolucionário, buscavam construir uma nova sociedade que excluísse os dois fundamentos da cultura francesa: era a ascensão da república e do ateísmo, valores que passaram a simbolizar a França pós-revolução. Os girondinos, por outro lado, repudiavam esse plano de reformulação social e defendiam a manutenção daquela mesma estrutura social e política que guiava a França ao longo dos séculos.
Assim, surgiu o que chamamos de esquerda e, consequentemente, também o que chamamos de direita. Sobre a direita, porém, não se pode dizer que “surgiu” neste exato momento, uma vez que o senso de manutenção da ordem social vigente pertencia à consciência popular durante todos os séculos vividos até então. Mas, podemos dizer que a direita se “organizou” ou se “levantou” pela primeira vez durante a Revolução Francesa, já que essa foi a primeira vez em que a civilização teve um antagonista organizado, o que demandava uma ação – ou melhor, uma reação – a fim de protegê-la.
Passados 50 anos do término da Revolução Francesa, Karl Marx publicava o Manifesto Comunista (1848), com o objetivo de reunir pela primeira vez todos os críticos da ordem econômica, social e política vigente sob o mesmo guarda-chuva revolucionário e dar a eles um método eficiente – em forma de ideologia – para – subverter a estrutura estabelecida: essa ferramenta seria o comunismo.
De la para cá, a ideologia marxista gerou diversas ramificações, o que é compreensível para um movimento internacional que precisa se adaptar a diferentes povos, culturas e realidades sociais. Porém, todas as ramificações compartilham do mesmo objetivo, que é o mesmo objetivo que tinham os revolucionários franceses: destronar a ordem vigente a fim de colocar um novo modelo de sociedade em seu lugar. Karl Marx contribuiu fundamentando exatamente qual seria esta “outra coisa”… bastava agora que seus discípulos encontrassem os meios para chegar lá.
Esses meios foram encontrados: Antonio Gramsci, Herbert Marcuse, György Lukács, Jurgen Habermas, Saul Alinsky, Cloward e Piven, entre outros, empenharam-se em desenvolver estratégias de subversão da “sociedade burguesa” (orientada pela democracia, pelo cristianismo, pelo capitalismo, pelas liberdades individuais etc.) a fim de forçar um colapso da mesma, o que possibilitaria a substituição dela pela utopia marxista do império proletário.
Dentro desse universo de estratégias, estão as bandeiras progressistas e todas as pautas políticas que a esquerda defende ainda hoje. Essa afirmação é algo que costuma causar espanto nos simpatizantes da esquerda, mas isso acontece porque eles as desconhecem completamente e, ludibriados pela sedução do discurso e por mini-conquistas de curto prazo para o seu “grupo social”, esquecem de investigar os efeitos gerais que todos aqueles pontos da agenda exercerão no destino da sociedade se forem aplicados em conjunto.
Portanto, às vezes, nos deparamos com certas posições esquisitas, do tipo: “Eu sou de esquerda, sim, mas não é por causa disso que eu quero o regime comunista”. Ora, ora… Só acredita que é possíel separar as duas coisas que realmente nunca leu absolutamente nada sobre o que os próprios ideólogos da esquerda dizem em suas obras e, por isso, não sabem que todas as bandeiras que os fazem concordar ou se identificar com a esquerda são apenas MEIOS para se atingir um FIM. E que esse fim é justamente aquilo que eles dizem não querer…
Seria razoável, por exemplo, um estudante dizer que deseja faltar aula todos os dias, mas que isso não significa dizer que ele deseja reprovar de ano?? Ou um sujeito qualquer dizer que pretende se alimentar apenas de doces, bolos, frituras e refrigerante, mas que isso não significa dizer que ele deseja engordar? Algum louco pode até dizer essas coisas, mas ninguém o levará a sério, já que todas as coisas que ele diz querer levam diretamente para o destino que ele diz NÃO querer.
Assim também acontece com o Comunismo. Após a queda da União Soviética, o mundo inteiro passou a repudiar o velho modelo: os anticomunistas, porque atestaram a ditadura sangrenta que houve; e os comunistas, porque atestaram a inviabilidade econômica do plano. Por isso, ficou claro que se eles quisessem manter o seu plano de poder vivo seria preciso CAMUFLAR o objetivo final (o comunismo, que havia caído em descrédito) e revesti-lo com lindos discursos em prol de causas que pairam acima do bem e do mal. Quem, afinal, pode ser contra a defesa de um oprimido? A ajuda aos pobres? Os direitos das mulheres? O fim do racismo? Todos nós somos favoráveis a isso, sejamos de esquerda ou de direita!
A questão não é essa, mas, sim: quem é o opressor na concepção de vocês? Como vocês pretendem resolver o problema? Qual é o diagnóstico que vocês dão para as causas dessa realidade? É NISSO que discordamos!
E é ISSo que as pessoas de esquerda precisam perceber: as soluções que eles propõem para as mazelas sociais invariavelmente são ineficientes e/ou inviáveis, encaixando-se em duas categorias específicas:
1) servirão para aprofundar o problema de modo que essa questão possa continuar sendo explorada politicamente; ou
2) servirão para um propósito maior do que aquele usado em discurso para ganhar o apoio das massas, que geralmente é o propósito de agigantar o Estado e intensificar o controle social (objetivos explícitos do Manifesto Comunista). Repudiar essas consequências faz de mim um nazista, por acaso??
Eu sei que tem gente que vai dizer que QUER o comunismo, que acha ele lindo e maravilhoso. Essa é outra história. Aqui, nesse texto, eu não me dirijo a essas pessoas, mas àquelas que SEM DESEJÁ-LO estão contribuindo com a sua ascensão por descuido. Prestem atenção e investiguem a origem das suas ideias! Não se deixem levar por palavras bonitinhas: existem outras maneiras de se construir uma sociedade mais livre, justa e fraterna, fora da bolha en que vocês estão. Eles só querem que você caia no erro de acreditar que a maneira que entrega o poder na mão deles é a única maneira possível…

Pedro Delfino é especialista em História da Civilização Ocidental e História da Igreja Católica; autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada (que aborda temas como História, Filosofia e Política); do Curso de História Geral da Civilização Ocidental, do Curso de Excelência Catholica, do livro Via Sancta e é co-Fundador do Movimento Brasil Conservador.
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