É fato que muitas pessoas, ainda hoje, não fazem a MENOR ideia do que significa o conservadorismo e, portanto, não se veem como conservadoras simplesmente porque não sabem o que é ou então acham que é uma coisa totalmente diferente – na maioria das vezes essa “coisa totalmente diferente” é aquilo que o senso comum veio enraizando erroneamente nas últimas décadas a partir de uma mentalidade formada pela perspectiva esquerdista do conservadorismo.
Ou seja, acreditam que ser conservador é ser retrógrado, machista, ultrapassado, fechado para as “mudanças da modernidade”, entre outros rótulos- falsos – desse tipo. Portanto, vamos consertar isso:
Para começar a entender o pensamento conservador, precisamos primeiro responder à pergunta básica: o que o conservador deseja conservar? Edmund Burke é o chamado pai do pensamento conservador e foi ele quem disse: “O delírio é capaz de destruir em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho e a previsão não poderiam construir em um século”. Ou seja, o conservador é simplesmente aquele indivíduo que se mostra cético e cauteloso diante das propostas revolucionárias, diante das rupturas abruptas com a ordem estabelecida, diante das ideologias inconsequentes. O conservador sabe que tudo aquilo que nós temos hoje foi construído a DURAS PENAS e que basta alguns momentos de insanidade coletiva para que a Liberdade, a Justiça, a Ordem e a Paz (tudo aquilo que levou SÉCULOS para ser construído) sejam rapidamente colocadas a perder.
Portanto, a resposta para a pergunta inicial é: o conservador deseja conservar os pilares de sustentação da Civilização Ocidental; aquelas colunas principais que mantêm o funcionamento da nação em uma ordem segura.
O conservador não é contra as mudanças, a modernidade ou o progresso. Mas, ele é cauteloso em relação a isso, pois leva em consideração os riscos que podem surgir com certas atitudes impensadas e nunca antes testadas. As ideologias revolucionárias costumam vir acompanhadas de promessas sedutoras, que fazem facilmente a cabeça dos jovens inexperientes. Elas trazem projetos de reformular a sociedade da noite para o dia e de lançar ao lixo valores que foram importantíssimos durante toda a história de construção da civilização. Um conservador jamais será conivente com tamanha irresponsabilidade.
Mas Ok. Dito isso, quais seriam esses pilares tão preciosos para a civilização, então?

A Civilização Ocidental teve o seu berço na Grécia Antiga com a Filosofia Grega. Pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles lançaram as bases fundamentais sobre as quais a civilização iria se erguer: desenvolveram o método filosófico, o raciocínio lógico, a democracia ateniense, a metafísica, aritmética, o senso das virtudes, o estudo da astrologia, da música, da literatura e de muitas outras áreas do saber que fizeram essa cultura se diferenciar demais de todas as outras culturas que já tinham existido até então.
Algum tempo depois, essa Grécia foi conquistada pelo poderoso Império Romano e a cultura grega se fundiu com a romana, criando a cultura greco-romana, chamada de “cultura clássica”.
Roma tinha uma cultura muito baseada nas leis, no direito, na justiça, na política e nas ciências militares, o que casou perfeitamente com a cultura grega, assimilando aquilo que os romanos não tinham até então (filosofia, poesia, literatura, profundidade, vida intelectual) e entregando aquilo que ela tinha de sobra (conhecimentos práticos e objetivos de estruturação do Estado). Assim se consolidavam os dois primeiros pilares da Civilização.
Com a vinda de Jesus, no seio do Império Romano, um pequeno grupo de judeus que o aceitou como o Messias criou uma dissidência interna no judaísmo. Essa nova religião que se criava pegou o arcabouço cultural- religioso do antigo povo hebreu, descrito no Antigo Testamento, e somou aos ensinamentos de Jesus Cristo, relatados no Novo Testamento, dando origem ao cristianismo. A popularidade desse grupo, mesmo sob brutal perseguição romana, explodiu, até chegar ao ponto de converter os imperadores e se tornar a religião oficial do Império Romano.
Com a posterior queda do Império Romano, em função das invasões bárbaras, todo o legado que a civilização vinha construindo até então ficou sob risco de ser apagado para sempre da história. Tudo o que havia sido levantado estava em ruínas, com a exceção de uma única instituição: a Igreja Católica.
Caiu no colo da Igreja a missão de civilizar novamente a Europa, que agora estava tomada por tribos selvagens que só queriam saber de matar e saquear. A Igreja guardou em seus templos e mosteiros toda a riqueza da civilização, salvando esse legado para a posteridade, e aos poucos foi reeducando povos, cristianizando os bárbaros, introduzindo a moral dos evangelhos e criando nações inteiras tementes a Deus. Ao longo desse processo lento e gradual se deu a consolidação do terceiro pilar: a moral judaico-cristã. E com a descoberta da América, depois, essa cultura pronta (já com os 3 pilares) foi trazida para cá pelos europeus.
O quarto e último pilar, o liberalismo econômico, surgiu com as obras de monges católicos de Portugal e Espanha que desenvolveram as bases teóricas do chamado Livre Mercado a partir da filosofia escolástica medieval (para saber mais sobre isso: Faith and Liberty: The Economic Thought of the Late Scholastics – Alejandro Chafuen). Posteriormente, essa teoria foi colocada em prática na Inglaterra, por influência de Adam Smith, o que possibilitou a Revolução Industrial e toda a mudança macroeconômica que o mundo ocidental sofreu de lá para cá, coisa que o permitiu se destacar muito em matéria de prosperidade, criação de riqueza e qualidade de vida.
Esses quatros pilares, então, formaram o que nós somos, sustentam-nos de pé até hoje e exercem uma influência muito maior (mesmo no cotidiano de pessoas comuns) do que a maioria de nós pode imaginar. Portanto, sempre que revolucionários ou “progressistas” surgirem propondo ideias mirabolantes que mexam com qualquer um desses quatro pilares, nós, pessoas interessadas na manutenção da ordem e na preservação do que foi duramente construído ao longo de 3 milênios, sempre nos posicionaremos contra! Isso é o conservadorismo.

Pedro Delfino é especialista em História da Civilização Ocidental e História da Igreja Católica; autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada (que aborda temas como História, Filosofia e Política); do Curso de História Geral da Civilização Ocidental, do Curso de Excelência Catholica, do livro Via Sancta e é co-Fundador do Movimento Brasil Conservador.
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Na parte dos gregos, quando se refere a “astrologia”, leia-se: “astronomia”.