A cultura moderna se levantou a partir de movimentos que queriam se desgarrar da cultura medieval e de tudo aquilo que estava ligado a ela. Como, naquela época, tínhamos uma visão teocêntrica de mundo, era natural que a religião ocupasse um lugar de destaque não apenas no íntimo das pessoas, mas nos próprios valores e leis que os povos escolhiam para reger a vida em sociedade.
No entanto, parece que, na ânsia de promover essa ruptura de eras, conseguiu-se foi construir um modelo sem pé nem cabeça. E um dos maiores exemplos da impossibilidade lógica que a modernidade tenta nos impor é a ideia absurda de que Política e Religião não se misturam. Ora, e por que não?
Dizem os modernistas que não devemos deixar que nossos valores religiosos sejam impostos ao restante da sociedade, uma vez que somos livres para crer no que quisermos. Justamente. A opção a isso seria que os adeptos da religião não tivessem o direito de manifestar a sua vontade baseado nos valores que têm. O que não seria nada democrático…
Imagine um cenário em que um cristão, um muçulmano, um judeu ou seja lá o que for seja forçado a deixar as suas crenças e convicções de lado ao votar. Ele pode acreditar do fundo do seu coração que o aborto (por exemplo) é uma prática imoral, mas, na hora de eleger um candidato, ele precisa pensar como um racionalista que desconsidera a existência de Deus e o plano espiritual. Conseguem ver onde isso vai dar?
É lógico que essa ideia não passa de uma jogada das ideologias humanistas e materialistas para fazer com que os seus adversários votem como eles, ao nos convencer de que escolher representantes condizentes com os valores da maioria do povo é algo imoral; e não o simples processo democrático acontecendo… Meu Deus do céu, quem é que cai numa armadilha infantil dessas?
Muita gente, infelizmente. Os ateus e agnósticos apenas se esquecem de dizer que o ateísmo também é uma crença (a crença de que Deus não existe) e que essa convicção, assim como a crença dos religiosos, determina todo um sistema de valores do indivíduo. No entanto, sobre esse sistema de valores baseado no ateísmo ninguém reclama, ninguém fala nada, como se ele fosse o único aceitável. É assim que a esquerda vem conseguindo silenciar milhões de pessoas e impor a sua ideologia anticristã e antiocidental a um país majoritariamente cristão.
Quer uma prova definitiva disso? Eleja um político que seja adepto do candomblé e veja como que a esquerda vai celebrar o feito. O problema deles, portanto, não é contra as religiões, mas somente contra as religiões judaico-cristãs, que, coincidentemente, são aquelas mesmas que fundaram a nossa civilização. Ou seja, para eles, não é que as religiões não devem se misturar com política, é que a NOSSA religião não deve, uma vez que o objetivo final das ideologias revolucionárias é destruir os pilares do Ocidente e eles sabem muito bem que o primeiro pilar civilizatório, dentre todos, é o da religião.
A ideia de separação entre Estado e Igreja surgiu pela primeira vez em 1644, como conta Daniel Dreisbach em Thomas Jefferson and the Wall of Separation Between Church and State, quando Roger Williams escreveu um folheto aos fiéis de sua igreja falando sobre a necessidade de levantar um muro entre o Estado e a igreja, a fim de proteger as igrejas da influência estatal. Já em 1800, essa expressão foi resgatada e se notabilizou quando Thomas Jefferson foi eleito presidente americano e a usou para tranquilizar as igrejas dos EUA de que o seu governo não viria a interferir nas suas atividades. Isso porque Thomas Jefferson era um ateu e durante a campanha o receio dele se voltar contra os cristãos havia crescido muito, criando a necessidade dele dar uma “garantia” quanto a isso depois de eleito.
Mas o que esses dois episódios históricos têm em comum é o fato de que, em ambos os casos, o tal “muro” simbólico tinha o propósito de proteger a IGREJA da influência estatal e não o Estado da influência religiosa. Até porque essa seria uma insanidade tão grande que os homens de antigamente (não corrompidos pela decadente cultura moderna) facilmente perceberiam o erro.
Essa afirmação se justifica pela já mencionada impossibilidade de colocar em prática um modelo como esse, a não ser por meio de duas soluções: 1) impedir por lei os adeptos da religião de votarem e se manifestarem publicamente; ou 2) banir as igrejas do país, como fazem as nações comunistas. Duas hipóteses inviáveis em qualquer país democrático. Porém, somente nessas duas hipóteses seria possível, de fato, separar uma coisa da outra e não deixar que elas se misturem, porque, todos nós, sejamos crentes ou descrentes, raciocinamos e votamos a partir de um conjunto de ideias que nos compõem e que, por isso mesmo, é impossível de desassociar de nós mesmos.
Nos tempos do Antigo Testamento, Deus levantou rei atrás de rei para que eles pudessem governar Israel segundo as suas leis e vontade. Mesmo sabendo disso, ainda tem cristão que deixa essa semente do indiferentismo ser plantada na sua cabeça justamente para fazê-lo se envergonhar da ideia de agir conforme a sua fé. Quanta ingenuidade, quanta fraqueza de personalidade… Não veem que nos fazer baixar a guarda é justamente o que eles mais querem e precisam a fim de obter a vitória final sobre o cristianismo?
Assim disse o Papa João Paulo II na Christifideles laici: “Os fiéis leigos não podem de maneira nenhuma abdicar de participar na ‘política’, ou seja, na multíplice e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum”. Entenderam o recado? “De maneira nenhuma”, ele disse!
Continuem, então, entrando na onda desses “intelectuais” metidos a iluministas, pois, quanto mais eles conseguirem silenciar os cristãos, mais a agenda anticristã se fortalecerá, ao ponto de Jesus ser banido totalmente da vida pública e, com Ele, todos os valores e lições que fundaram a civilização ocidental. Quando esse dia chegar, essa “sensibilidade” que eles tanto pedem da nossa parte, em não impor os nossos valores ao todo, será imediatamente esquecida e os valores DELES serão impostos goela abaixo da sociedade sem dó nem piedade — como já estão sendo! Mas, nesse dia, já será tarde para despertar, pois eles nunca vão ser tão burros e inocentes a fim de não usar a vantagem que têm contra nós, como nós estamos sendo agora.

Pedro Delfino é especialista em História da Civilização Ocidental e História da Igreja Católica; autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada (que aborda temas como História, Filosofia e Política); do Curso de História Geral da Civilização Ocidental, do Curso de Excelência Catholica, do livro Via Sancta e é co-Fundador do Movimento Brasil Conservador.
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