Guerra Cultural Afinal, o que pensar sobre a Campanha da Fraternidade?

Afinal, o que pensar sobre a Campanha da Fraternidade?

"Neste ano, o texto da Campanha foi redigido pela pastora luterana, Romi Bencke, que se autoproclama uma pastora feminista e pró-aborto! Essa ala de bispos “esquerdistas”, por assim dizer, NÃO representa a maioria dos bispos no Brasil", revela Pedro Delfino

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A Campanha da Fraternidade de 2021 está causando uma enorme polêmica em função da sua abordagem claramente politizada e ideológica, relacionada aos temas sociais sensíveis da atualidade. Diante disso, muitas dúvidas surgem sobre a Igreja no Brasil e o real sentido dessa campanha. Para esclarecer, vamos aos fatos:

A Campanha da Fraternidade é uma campanha pastoral lançada pela CNBB, anualmente (sempre próximo ao início da Quaresma), que se propõe a chamar a atenção dos fiéis católicos para um tema social específico. 

O que é a CNBB?

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é uma instituição que, nos moldes do que acontece nos outros países, reúne todos os bispos daquela nação, portanto, é uma instituição que deve ser olhada com carinho por todos nós, uma vez que os bispos são os legítimos sucessores dos apóstolos, instituídos através de uma sucessão ininterrupta de 2 mil anos. No entanto, é verdade que uma parcela desses bispos, especialmente no Brasil e nos demais países da América Latina, estão mais engajados com a Teologia da Libertação (heresia que se espalhou nessa região do mundo) do que com a doutrina católica e, por isso, devemos olhar para a CNBB como uma instituição que precisa ser SALVA e não demonizada. 

Essa ala de bispos “esquerdistas”, por assim dizer, NÃO representa a maioria dos bispos no Brasil, porém, eles estão ocupando cargos importantes na CNBB que dão a eles a autoridade sobre a Campanha da Fraternidade: o Conselho Pastoral da CNBB. Ou seja, a Campanha da Fraternidade não é um documento aprovado por um consenso entre todos os bispos do Brasil, mas por um pequeno grupo de bispos que compõem esse Conselho.

Essa “ocupação” acontece nos mesmos moldes da infiltração esquerdista nas instituições seculares, de modo que uma ala ideológica minoritária consegue conquistar o poder de tomar decisões importantes e subjugar a vontade da maioria a isso (já estamos acostumados a ver essa mesma dinâmica replicada em diversas áreas da sociedade). Tanto é assim que, logo após o lançamento da Campanha de 2021, inúmeros bispos vieram à público se dizer escandalizados e contrários ao texto-base. Ora, de certo, nenhum deles foi consultado antes!

Isso é totalmente diferente do que acontece, por exemplo, quando todos os bispos do Brasil se reúnem nos encontros anuais de Aparecida e publicam documentos em conjunto que passaram, de fato, pela apreciação e votação de todos. Com a Campanha da Fraternidade, infelizmente, não acontece do mesmo jeito! E, nos últimos anos, esse pequeno Conselho tem se aproveitado disso para escolher temas cada vez mais politizados e ideológicos, em detrimento do que seria o mais adequado para o tempo da Quaresma: o convite à conversão, à penitência, ao jejum, à esmola, à oração e à evangelização.

Além disso, é importante que se ressalte que, uma vez a cada cinco anos, a Campanha da Fraternidade é organizada de forme ecumênica (é o caso de 2021). Ou seja, em conjunto com outras igrejas cristãs que fazem parte da CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil) numa iniciativa de aproximação entre a Igreja Católica e as igrejas protestantes. A CONIC é formada pela Aliança de Igrejas Batistas do Brasil, Igreja Luterana do Brasil, Igreja Presbiteriana do Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Católica, entre outras… E, neste ano, o texto da Campanha foi redigido pela pastora luterana, Romi Bencke, que se autoproclama uma pastora feminista e pró-aborto!

Ou seja, o problema aqui vai muito além da Igreja Católica, mas torna explícita a corrupção que está havendo em uma parcela de todas as vertentes cristãs, que estão sendo alvos prioritários da infiltração comunista, que, por sua vez, age com o objetivo de afastar as pessoas de Deus e canalizar a busca por Ele na direção de uma agenda política e revolucionária.

A presidência da CNBB emitiu uma nota oficial depois, explicando a contradição entre o texto da pastora e a doutrina católica: “Não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB” — disseram. “A doutrina católica sobre as questões de gênero afirma que ‘gênero é a dimensão transcendente da sexualidade humana, compatível com todos os níveis da pessoa humana, entre os quais o corpo, a mente, o espírito, a alma. O gênero é, portanto, maleável sujeito a influências internas e externas à pessoa humana, mas deve obedecer a ordem natural já predisposta pelo corpo”. 

Menos mal. Eles reconhecem, então, PELO MENOS, que aquele texto ali, imerso no esquerdismo, fere a moral católica em determinados pontos. No entanto, eles argumentam na nota que essa é uma das concessões que devem ser feitas em prol do esforço ecumênico pela unidade. Ora, aí está o GRANDE erro: a encíclica Ut Unum Sint, de 1999, onde o Papa São João Paulo II discorre sobre a importância da busca pela unidade dos cristãos através da iniciativa ecumênica, deixa claro que ela não pode ser construída às custas das verdades da fé. Se a Igreja tiver que negar as suas crenças em prol do ecumenismo, então esse ecumenismo está virando um fim em si mesmo e não o meio para se alcançar um BEM. 

Por isso tudo, é preciso que se diga: a Campanha da Fraternidade NÃO é doutrina da Igreja e ninguém é obrigado a aderir a esta campanha, por mais que o padre da sua paróquia diga o contrário. E — pode ficar tranquilo! — isso não faz de você um mau católico, muito pelo contrário, conforme o Código de Direito Canônico nos exige claramente: 

“Cân. 212 — § 3. Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas.”

Ou seja, nós, como católicos que somos, temos o direito e por vezes o dever (!) de expor a nossa opinião para salvar a integridade da fé e prezar pelo bem da Igreja. Desde que isso seja feito com respeito para com os nossos superiores. Afinal, a Igreja é uma família, cujos membros devem se tratar com amor e caridade; e não uma empresa onde se substituem os maus funcionários como se troca um objeto defeituoso.

É bom lembrar também que os bispos são, de fato, as autoridades eclesiásticas às quais estamos submetidos, mas a CNBB é apenas um órgão consultivo que NÃO fala em nome deles e nem pertence à hierarquia da Igreja. Portanto, as suas manifestações não representam a posição da Igreja Católica no Brasil, salvo raros momentos em que o Vaticano especificamente delega a ela certas decisões ou quando TODOS os bispos se reúnem para aprovar documentos em consenso, casos nos quais a Campanha da Fraternidade desse ano e de todos os outros não se enquadra. 

Portanto, entre aqueles que nos criticam por nos colocarmos contra o ERRO e São Francisco de Sales, eu fico com as palavras do santo, que, na Filoteia, disse que o mandamento de não apontar o dedo aos erros alheios só comporta uma única exceção: os inimigos da Igreja. “É nossa obrigação” — disse ele — “descobrir o lobo que se esconde entre as ovelhas e denunciá-lo onde quer que ele esteja”. E, se o erro não foi propriamente deles, mas da pastora luterana — conforme poderiam argumentar —, tornou-se deles a partir do momento em que consentiram com o absurdo, afinal, “não se opor ao erro é aprová-lo e não defender a verdade é negá-la”, já dizia Santo Tomás de Aquino. E não existe ecumenismo algum que faça isso valer a pena!

Pedro Delfino é especialista em História da Civilização Ocidental e História da Igreja Católica; autor do livro Mentalidade Atrasada, Nação Fracassada (que aborda temas como História, Filosofia e Política); do Curso de História Geral da Civilização Ocidental, do Curso de Excelência Catholica, do livro Via Sancta e é co-Fundador do Movimento Brasil Conservador.
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